Morre Francisco Cuoco, um dos grandes galãs da TV brasileira, aos 91 anos

Ator construiu sua carismática identidade com uma galeria de personagens marcados pela voz grave e rouca que faziam parte do seu charme

Morreu nesta quinta-feira (19) o ator Francisco Cuoco, aos 91 anos. A informação foi confirmada por sua família, que acompanhava o artista em diversas internações nos últimos meses. Cuoco estava internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, há cerca de 20 dias, sedado desde então, em decorrência de complicações de idade e uma infecção num ferimento, conforme relatou sua irmã, Grácia. A causa oficial da morte ainda não foi divulgada.

📺 Carisma e identidade marcante

Cuoco não era um ator de camaleões, capaz de mergulhos drásticos em cada personagem. Ao contrário: forjou uma identidade sólida — voz grave e rouca, olhar sedutor, virilidade controlada e um tom levemente noir. Era esse “tom Cuoco” que o público consumia, novela após novela, com devoção e nostalgia.

O sucesso veio quando a TV Globo alcançava seu apogeu: grande audiência, prestígio e sem desgaste por tomar partido diante de crises políticas. Era uma época em que o ator, além de estrela, simbolizava confiança e pertencimento num país onde a televisão ainda dava paulatino espaço às redes sociais — sem ruídos ideológicos.

Trajetória de origem humilde

Nascido em 1933, no Brás, bairro operário de São Paulo, filho de imigrantes italianos e ajudante de feirante, Cuoco ingressou na Escola de Arte Dramática dos anos 1950, conciliando trabalho e estudo. Em 1958 estreou em palco, ao lado de Fernanda Montenegro e Sérgio Britto, no teatro dirigido por Alberto D’Aversa. Foi ali que nasceu o ator que viria a conquistar milhões.

No início dos anos 1960, participou da companhia Teatro dos Sete, dividindo cena com grandes nomes como Gianni Ratto e Ítalo Rossi. Passou ao teleteatro da Tupi, e em 1964 foi protagonista de sua primeira novela, Marcados Pelo Amor. Já em 1966 e 1968, reafirmou sua presença como galã em “Redenção” e “Legião dos Esquecidos”, respectivamente.

Ascensão no auge da Globo

Em Selva de Pedra (1972), protagonizado ao lado de Regina Duarte, Cuoco converteu prestígio em marcas no Ibope. Virou Carlão, o taxista de Pecado Capital (1975), e Herculano Quintanilha em O Astro (1977), papéis icônicos assinados por Janete Clair — e que garantiram sua presença na memória afetiva da TV brasileira. Ainda em 1987, desafiou convenções ao interpretar dois papéis em O Outro, novela de Aguinaldo Silva que lhe rendeu nova aclamação.

Com o declínio dos palcos nos anos 1990, retornou ao teatro em 2004 com o humor ácido de Três Homens Baixos, voltou em 2008 com Circuncisão em Nova York, seguiu em 2009 com Deus é Química, e em 2013 protagonizou Uma Vida no Teatro, de David Mamet, sempre com respostas calorosas da plateia.

Cinema e música

Sua incursão no cinema deu-se mais tarde: em Traição (1998), Gêmeas (1999), Um Anjo Trapalhão (2000) e Cafundó (2005), consolidando um talento versátil. Como cantor, lançou em 1975 o disco romântico Solead e em 2010 o CD Paz Interior, com 16 orações católicas — claro reflexo de sua espiritualidade.

Legado familiar e repercussão

Cuoco deixa três filhos — Rodrigo, Diogo e Tatiana, que mora em Londres e esteve ao seu lado nos últimos momentos. Seu falecimento muda o palco, mas não apaga a presença viva que deixou na cultura e na memória do Brasil.

Quando a Globo era incontestável

O auge de Cuoco coincidiu com a era dourada da Globo — em que novelas eram fenômenos nacionais, antes mesmo das redes sociais fragmentarem a atenção e politizarem a mídia. Naquelas décadas, o ator era mencionado como referência moral e estética; sua imagem não sofria desgaste político ou ideológico.

O fim de uma era

Cuoco é a lembrança de um tempo em que o galã representava valores: elegância, virilidade, confiança — e pertencia, incontestavelmente, ao imaginário coletivo. A moderação era seu cartão de visita; seu revés foi tardio demais para que mídia ou redes tivessem impacto relevante. Conclusão

Francisco Cuoco morreu, mas fica o legado — da senzala do Brás aos bastidores das grandes produções, das batalhas nas mãos-de-obra da feirinha à explosão na TV. Ele inspirou atores, encantou plateias e deixou histórias que merecem ser preservadas.

No fim, vai mais do que um rosto na tela: fica uma voz, um estilo, um pedaço da cultura brasileira marcado pela confiança de um país que assistia, emocionado, à narrativa de suas próprias aspirações.

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