Mais de 500 tratores foram mobilizados por produtores rurais em um protesto realizado na última sexta-feira (6), em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. A manifestação teve como alvo o governo federal e instituições financeiras, com o objetivo de chamar a atenção para a situação crítica enfrentada pelo setor agrícola no estado.
Desde o dia 13 de maio, agricultores vêm promovendo mobilizações em diversas cidades gaúchas. A principal reivindicação gira em torno da aprovação do projeto de securitização de dívidas, atualmente em tramitação no Congresso Nacional. A medida permitiria transformar débitos do setor rural em títulos garantidos pelo Tesouro Nacional, viabilizando condições especiais de financiamento.
De acordo com Arlei Romeiro, diretor financeiro da Associação dos Produtores e Empresários Rurais (Aper), a securitização não é uma novidade e já foi aplicada no país. Nos anos 1990, por exemplo, produtores do Rio Grande do Sul foram beneficiados com parcelamentos de até 25 anos, o que contribuiu para aliviar os efeitos de uma crise semelhante à atual.
Romeiro destaca que, além do endividamento estrutural do setor agropecuário, os produtores gaúchos enfrentam dificuldades agravadas pelas enchentes de 2024 e por quatro estiagens consecutivas nos últimos anos. Outro ponto de crítica é a atuação de instituições financeiras, que segundo ele, têm dificultado o acesso às políticas públicas de crédito rural, com práticas consideradas abusivas.
Os agricultores também acumulam dívidas com concessionárias de máquinas agrícolas, revendas de insumos e cooperativas. A situação tem levado muitos a venderem patrimônio pessoal para quitar compromissos financeiros.
Para os produtores, o projeto de securitização representa uma chance de reorganizar a vida financeira com base na produção, e não por meio da perda de bens. “A manifestação também serve para conscientizar a sociedade, o comércio, a indústria e o serviço sobre o reflexo da situação de incerteza que afeta fatalmente os grandes centros. Já está afetando com aumento de preço, com desemprego e com desaceleração econômica”, afirmou Romeiro.
No último dia 20 de maio, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, informou que o texto para a prorrogação das dívidas dos produtores já está pronto. A proposta aguarda os ajustes finais da ministra do Planejamento, Simone Tebet, antes de ser submetida ao Conselho Monetário Nacional.